Um jogador habilidoso e promissor, que foi impactado pelo (grande) erro que cometeu no passado. Precisou recomeçar para, aos poucos, reconquistar um espaço que, pelos próprios atos, se tornou vazio. Convivendo com críticas, Lucas “ntk” Martins fez uma brilhante temporada dentro dos servidores.
Uma das referências da The Union durante o ano de 2023, foi peça fundamental para o domínio no cenário nacional. Por isso, está de volta à lista de melhores jogadores do ano feita pelo VALORANT Zone, desta vez na segunda colocação.
O início e o caminho
Como um bom e velho gamer, Lucas teve seu primeiro contato com os jogos eletrônicos nas tradicionais lan houses. Sem muitas condições na época, o atleta precisava ir até o local para conseguir se divertir com os amigos.
“No ensino fundamental, lá pra segunda série, acho que comecei a ir em algumas LANs para jogar com meus amigos. Alguns amigos já jogavam pela internet, mas como eu não tinha condições de ter computador em casa, eu não tinha como jogar com eles. Só dava pra fazer isso pela LAN”, conta.
Antes de se tornar um jogador profissional, ntk só estudava. O atleta revela que não tinha um caminho pra seguir na vida, entretanto, tomou a decisão de se jogar de cabeça no esporte eletrônico ao perceber que era sua paixão.
“Tomei a decisão de entrar pra esse meio quando vi que gostava muito disso e queria viver no jogo. Junto com isso, recebi meu primeiro ‘contrato’ (época de Counter-Strike não era bem um contrato) e peguei firma para tentar me tornar um bom jogador”.
Chegada no VALORANT
Em 2020, com o lançamento do VALORANT, Lucas optou por migrar para o FPS da Riot Games. O jogador teve uma passagem relâmpago pela Keyd Stars, mas, um mês depois, se transferiu para a Team oNe, onde começou a ser notado.
“O início foi bem fera, começamos na Team oNe e ninguém tinha um ‘nome’ ou algo do tipo, como outros jogadores na época já tinham de outros jogos. Então, a gente jogava os campeonatos tranquilos, sem pressão. Meio que ninguém acreditava na gente e acabou dando certo algumas vezes”.
Com a Team oNe, ntk participou de dezenas de campeonatos e flertou com o título em algumas oportunidades. O mais especial, sem dúvidas, foi o First Strike Brazil, primeiro campeonato presencial na história do VALORANT brasileiro.
A boa temporada do atleta, inclusive, rendeu uma premiação individual. Lucas foi eleito pelo VALORANT Zone como o oitavo melhor jogador de 2020.
2021
No início de 2021, Lucas deixou a Team oNe e seguiu rumo à SLICK, onde também se destacou. O jogador e a equipe chamaram a atenção do Brasil quando conseguiram bons resultados sobre outros grandes times do cenário.
O desempenho individual do jogador chamou a atenção da Keyd Stars mais uma vez, que o contrato no meio da temporada. Com os ‘guerreiros’, ntk foi campeão da terceira etapa do Challengers Brasil 2021 e garantiu vaga no Masters Berlim, seu primeiro torneio internacional de VALORANT.
Lucas, provavelmente, também jogaria o Champions no mesmo ano, mas foi afastado da equipe após um caso envolvendo seu nome ter sido divulgado pela mídia. A comunidade, imediatamente, condenou o jogador.
Prisão e mancha na carreira
Em dezembro de 2015, Lucas foi preso após agredir sua ex-namorada. Na época, o atleta pagou fiança de R$ 2 mil para ser liberado. Acusado de agredir e arrastar a ex-companheira pelo cabelo, em 2017 o jogador foi condenado por lesão corporal a seis meses de pena em regime aberto.
Perguntado sobre o atual estado da sua ex-namorada, ntk revela que não mantém mais contato e que não cabe a ele falar sobre como ela está. Apesar disso, o jogador afirma que no dia do ocorrido e nos dias após fez “tudo que estava ao meu alcance, tudo que eu podia fazer eu fiz e estava lá pra fazer”.
Em 2021, quando a notícia sobre o acontecimento veio à tona, Lucas afirmou através das suas redes sociais que o ocorrido mudou a sua vida de várias formas. Dois anos após essa afirmação, ntk explica melhor como o acontecimento o impactou.
“Na época do acontecido, em 2015, eu não tinha muito uma perspectiva de futuro, não pensava muito nas consequências de nada, como se eu tivesse perdido na vida mesmo. Então isso foi um alerta, um chamado, uma mexida na cabeça pra acordar e entender que tinha que viver a vida direito. Foi aquela chacoalhada, e por isso eu vivo a vida que vivo hoje”, iniciou.
Após o conhecimento popular sobre o ocorrido, a comunidade imediatamente condenou Lucas. O jogador foi alvo de inúmeras críticas e muitas pessoas opinaram que não seria justo o atleta continuar recebendo oportunidades no cenário. Perguntado se acha justo ainda ser jogador profissional, ntk respondeu:
“As pessoas’ que você cita, são só as pessoas no Twitter mesmo. Eu converso diariamente sobre esse tipo de assunto com vários grupos diferentes, vários ‘tipos’ de pessoas, de pensamentos diferentes, em lugares diferentes e sempre é uma conversa boa, uma conversa civilizada que sempre resulta em coisas boas. Mas nos ‘posts de Twitter’ acaba sendo isso”, iniciou.
“A minha opinião, MINHA LUCAS, não só porque passei por isso e etc. Mas todo mundo merece uma segunda chance, depois de cumprir o que tiver que cumprir, mas todos merecem. Algumas das discussões chegaram no assunto de ‘não poder ser uma pessoa pública’, mas não acho que seja assim que funciona. Alguém ter uma segunda chance, mas ‘os outros escolherem no que ela pode ou não pode trabalhar’, não funciona assim”.
“As pessoas sempre souberam disso. No post que fiz em 2021, deixei bem claro que eu nunca escondi isso de nenhum teammate, nenhum amigo, nenhuma organização ou qualquer pessoa relacionada comigo. Entendo que tem algumas pessoas que tem essa opinião e não vão mudá-la, mas tenho que continuar fazendo o meu e sendo dedicado no que faço, assim vão continuar aparecendo oportunidades e eu preciso saber agarrá-las igual fiz em 2023”.
Por fim, analisando toda a situação, Lucas afirma que “eu nunca quis que isso acontecesse, nunca queria que eu e ela passássemos por isso. Mas, aconteceu. Não tem como voltar atrás e as consequências são e serão pra sempre. Cicatrizes, arrependimentos, aprendizados. As coisas aconteceram e a única opção é melhorar e evoluir”.
Recomeço
Após deixar a Keyd Stars no final de 2021, ntk praticamente ficou invisível aos olhos do cenário. O atleta passou a maior parte de 2022 jogando junto com alguns amigos, em equipes sem muitas pretensões.
Apesar disso, o jogador mais uma vez se destacou e chamou a atenção da The Union. Lucas entrou na organização em novembro de 2022. No ano seguinte, viveu, provavelmente, a melhor fase da sua carreira no VALORANT.
Com a The Union, ntk conquistou as duas etapas do VALORANT Challengers Brasil 2023. A equipe foi considerada a melhor do cenário brasileiro neste ano. Para Lucas, os resultados foram frutos de muito trabalho.
“Acredito que estávamos bem focados e bem estruturados. Todo mundo sabia bem o que tinha que fazer dentro do servidor, fazendo de uma forma simples, sem inventar muito, só fazendo o nosso em silêncio. Acredito que esse foi o diferencial do time”.
Mesmo assim, ntk foi sincero ao dizer que a criação do Sistema de Franquias favoreceu o bom desempenho da sua equipe. Na opinião do jogador, o nível do cenário brasileiro acabou caindo com a saída dos principais times do país para o VCT Americas League.
“Com relação ao campeonato (VCB), esse ano foi o primeiro sem os times das Franquias. Acho que isso pesou em alguns pontos, tipo o nível do campeonato. Querendo ou não, os ‘melhores times’ não participavam mais, então o nível acabou caindo”.
Os números do Top 2
Em um cenário no qual os duelistas se destacam na maioria das vezes, Lucas mostra que o desempenho de um jogador não está atrelado necessariamente aos agentes. Fazendo a função de iniciador, ntk finalizou a temporada com 1.06 de KD. Além disso, teve 197.3 de ACS (Pontuação média de combate).
“Foi o primeiro ano que eu senti que tive um crescimento individual. Primeiro ano que me dediquei totalmente pro jogo. Acredito que isso tenha feito a diferença. Melhorei muito meus fundamentos e estava jogando constantemente o jogo (algo que eu não fazia muito antes)”.
Sobre a rotina individual, Lucas foi sincero ao dizer que não segue muito um planejamento adequado. O atleta afirma que sabe que precisa melhor neste ponto, mas também destaca a rotina coletiva como parte do sucesso.
“Eu não tenho muito uma rotina individual. Sou um cara que não segue muito isso (estou errado, é claro). Mas eu não jogo aimlab ou kovaak, não jogo deathmatch, não jogo The Range. Então, eu sigo a rotina coletiva do time, os horários de treinos, as ranked obrigatórias, o tático, o que for a rotina do time mesmo. Eu só me adapto”.
Próxima temporada e perspectivas sobre o cenário
Com a queda brusca que o cenário brasileiro vem sofrendo nos últimos meses, muitas organizações optaram por pausar seus investimentos no VALORANT. Infelizmente, a The Union seguiu o mesmo caminho.
Com isso, a equipe de Lucas está em busca de uma nova casa. O jogador confessa que as perspectivas para a próxima temporada são negativas, mas espera que a situação melhore. “Infelizmente não temos muito o que esperar pra 2024, com tudo que vem acontecendo. Difícil ser um bom ano para o VALORANT, mas sempre temos que esperar o melhor”.
Falando mais a fundo sobre a situação do cenário brasileiro, ntk afirma que tudo é muito “caótico” e mostrou-se preocupado pela falta de investimento. Além disso, opinou que os incentivos oferecidos pela Riot Games não são suficientes para sustentar o cenário.
“A situação no Brasil é bem caótica, não somente pelo início das Franquias, mas pela falta de motivos para investir aqui. Ganhar todos os campeonatos regionais, só dá vaga pro Ascension, que tem times internacionais. Já começamos atrás por conta dos treinamentos durante o ano todo. Então a falta de ‘ser premiado’, no sentido de campeonatos, e não de valores, não traz motivos para organizações investirem no cenário local como aconteceu até o fim de 2022”.
Quer ficar por dentro de tudo o que acontece no mundo do VALORANT? Então, siga o VALORANT Zone nas redes sociais: Twitter, Facebook e Instagram.