Um jovem estrela, com talento absurdo e sendo destaque em um título mundial. Claramente poderíamos estar falando de Kylian Mbappé, mas nos esportes eletrônicos existe outro garoto tão bom quanto o francês. Felipe “Less” Basso é uma jovem estrela, com talento absurdo e foi destaque no título mundial da LOUD.
São poucos jogadores na história do esporte que atingem um alto nível com tão pouca idade e ser campeão do mundo com 17 anos é só para Less e Pelé. Agora, só o tempo dirá se ele se tornará o maior da história (sem pressão, ok?). Mas, em seu primeiro passo, Less já aparece em 2º lugar no prêmio 10 Melhores do Ano de 2022 pelo VALORANT Zone.
A LOUD foi procurada por este que vos escreve a partir do momento em que a lista de melhores do ano foi definida pelo VALORANT Zone. Apesar da tentativa de falar com o jogador pelos caminhos formais, a organização não respondeu à solicitação de entrevista com Less para que ele pudesse falar mais sobre a temporada.
O segundo melhor do Brasil
Less é um jogador que naturalmente entende o que acontece nos rounds e tem o poder de decisão facilitado. Por isso, tem grande versatilidade para trabalhar com vários agentes e neste ano jogou com maestria de Viper e Killjoy.
Outro ponto importante, é a mira apurada. Rato nas ranqueadas brasileiras, Less ainda brinca com duelistas, o que deixa ainda mais precisa em momentos-chave dos rounds. Estatisticamente terminou o ano de 2022 com um ACS de 216.9, além disso, um dano médio por round de 140, o que representa praticamente uma eliminação por rodada.
Outra estatística importante é sua boa taxa de clutchs, com 18,6% de vitórias. Apesar de inicialmente parecer baixo, boa parte destas vitórias foram em rodadas decisivas que trouxeram a LOUD de volta para a partida após momentos difíceis. O número fica ainda maior quando se olha apenas para Killjoy. São 12 vitórias em 38 clutchs disputados, um aproveitamento pouco maior que 30%.
“Eu quero ser jogador profissional”
Less é um jovem determinado e sempre sonhou em ser jogador profissional. Seu sonho começou a ser trilhado durante um momento triste de sua vida. Durante a separação de seus pais, o pai deu um computador para ele poder se ocupar. Então, foi com 9 anos que começou a descobrir os jogos. Primeiramente, jogava apenas Minecraft, depois migrou para o Counter-Strike: Global Offensive.
“Desde o começo eu tinha o sonho de ser profissional porque eu não gostava de estudar. Com onze eu já era Águia no CS, que é meio difícil. E eu já pensava que queria isso para minha vida”, comentou o jogador durante o podcast Resenha LOUD.
A época do CS:GO foi a mesma em que Gabriel “FalleN” Toledo, Marcelo “coldzera” David e companhia dominavam o mundo com a tag da SK Gaming. Isso era mais um ânimo para a aposta. Por outro lado, isso custava desempenho no colégio, em que normalmente ia mal.
“Eu era o último a ser escolhido nos grupos, porque eu era muito ruim na escola. Mas é porque eu não tinha interesse, já estava em outro mundo. Com treze anos minha intenção era ser profissional, eu via o FalleN e o coldzera e queria ser que nem eles”, disse.
“No CS era muito difícil ser profissional, aí eu fui pro LoL. E no LoL eu gostava, mas sentia que não era aquilo que queria. Eu jogava até bem, quase peguei Mestre”, completou.
7 de abril de 2020
Poucas pessoas sabem o que aconteceu no dia 7 de abril de 2020, mas Less com toda a certeza estava em busca em uma chave para jogar o beta fechado de VALORANT. Assim como outros jogadores, ele enxergou uma oportunidade de iniciar sua carreira profissional em um esport, mesmo com apenas 15 anos.
Rapidamente começou a jogar e se adaptar ao FPS. Rushando nas ranqueadas, se tornou uma sensação do cenário e conseguiu uma equipe. Entretanto, sua idade impedia ele de disputar torneios oficiais da Riot.
Entrando em 2021 e já com a idade mínima de competição, aí ele começou sua rotina como atleta. Inicialmente de duelista, fez grandes partidas com a tag da Galaxy Carrots, como nos classificatórios para o VALORANT Challengers Brasil 2. Bateu organizações grandes como Vivo Keyd e Imperial, provando que em um time encaixado iria desempenhar bem.
Já passando por adaptações e jogando de Killjoy, sofreu o primeiro revés na carreira. Um vice-campeonato da sexta edição da Chroma Cup, perdendo para REVOADA, com ex-jogadores da VK.
Neste meio tempo, a equipe trocou de tag, indo para a Jaguares Esports e disputando o Challengers 3. Se consolidando entre as oito melhores equipes do Brasil, se aproximaram de uma vaga no Masters Berlin. Por coincidência, foram eliminados para a Vikings, equipe de Sacy e Saadhak – sendo o destaque da série.
A frustração da eliminação se tornou alegria de título, levando a oitava edição da Chroma Cup. Less foi o grande destaque da final com 48 eliminações – jogando de Viper e Cypher – além de um ACS de 289.
Less se tornou bicampeão na décima edição, mas já por uma nova equipe. Com coragem, ele aceitou um novo desafio, trocando os companheiros (amigos) que estavam praticamente juntos desde o início do jogo.
Se juntando a Tropinha do TikTok – com BLD, PEPA, fzkk e vhz – seguiu sendo destaque em uma equipe, teoricamente, mais forte. Conquistou o título da Chroma Cup 10, chegou a semifinal da 11ª edição e terminou em terceiro lugar da Copa Rakin.
Less terminou o ano de 2021 em alta e chamando atenção de boa parte da comunidade. Tanto é que o treinador Dabizas, apontou ele como grande revelação brasileira. E isso não foi só visto por ele, mas sim pelos responsáveis pelo principal projeto do país.
22 de dezembro de 2021, minha primeira vez no Spike Plant do @valorantzonegg junto com o @gabrielpumba @cacmelo @vazfps e o @hollisvlr, eis que me vem a questão perguntando de quem era a revelação de 2021 e eu disso isso. @loud_less vc ainda vai voar muito ainda pic.twitter.com/nMJiv2WKVU
— FA Dabizas (@CoachDabizas) September 18, 2022
Escolha do caminho certo e início de ano mágico
Encerrando o ano valorizado, Less virou foco de vários jogadores para a montagem de novas equipes. Entretanto, o desejo dele sempre foi estar ao lado de Sacy e Saad. A demora o deixou apreensivo e quase fez ele fechar com outro time, mas uma Mensagem Direta no Twitter o convenceu a esperar.
“O coach antigo (Onur), falou comigo para não fechar nenhuma proposta até no outro dia a noite“, revelou.
“No outro dia a noite, o Sacy tava recebendo a premiação de melhor jogador do ano e antes dele ir para o evento, ele me mandou mensagem dizendo que queria eu no time. Fiquei feliz demais porque era a proposta que eu queria“, completou.
Com o quinteto formado, a questão era apenas achar a tag que iriam representar e aí surge a LOUD. A maior organização para os maiores jogadores, com isso, aparentemente nada poderia dar errado. E não deu.
O risco de ficar de fora do Challengers e praticamente matar a temporada foi afastada, mesmo com apenas dois dias de treino. O talento individual de Pancada e Amigos passou por cima de B4, Stars Horizon e MIBR para chegar ao campeonato brasileiro.
Sem surpresas, na primeira etapa do VCT foi campeão com sobras, perdendo apenas um mapa. Com isso, garantiu vaga no Masters Reykjavík.
Até o momento, o Brasil ainda não tinha superado adversários internacionais e por isso a desconfiança era grande. Foi neste momento que o Brasil parou e entendeu que algo histórico estava acontecendo para o VALORANT nacional. A vitória sobre Team Liquid, G2 e OpTic apontava que a LOUD era um ponto fora da curva e sim, um dos melhores times do mundo.
Na grande decisão, a derrota no reencontro contra a OpTic deixou o Brasil triste, mas Less e companhia entendia que aquele era só o primeiro passo: o objetivo é ser campeão mundial.
É preciso cair para se levantar mais forte
A volta para o Brasil serviu apenas para mostrar que eles estavam muito acima dos demais. Nenhum mapa perdido e mais um título do Challengers. Desta vez, com vaga para o Masters Copenhagen a expectativa era ainda maior.
Mas, no final a frustração prevaleceu. No grupo da morte, a LOUD caiu para KRÜ Esports a na sequência para OpTic dando adeus a competição. De campeão a eliminado na primeira fase. Uma queda que se mostrou necessária para levantar ainda mais forte.
Desde então, os jogadores aproveitaram para tirar um período de férias e na sequência focar nos treinos. A estratégia funcionou muito bem e fundamental para chegar ao objetivo.
O quinteto chegou preparado e no ápice da performance para o Champions, praticamente imparáveis. Na primeira fase um susto. Novamente perdendo para a OpTic e ligando um alerta para a Pearl. A classificação aconteceu de forma tranquila para os playoffs.
Nas finais, uma verdadeira máquina de triturar os adversários em alto nível. Bateu Leviatán, DRX e OpTic para chegar a grande decisão sem perder um mapa.
Na grande final um reencontro contra a OpTic, já transformando em clássico e de maneira definitiva: o vencedor seria coroado o melhor do mundo. Desta vez, sem dar margem para o erro, a LOUD passou por cima dos americanos por 3 a 1 e se tornou campeão mundial.
Nenhum jogador ficou abaixo das 65 eliminações e Less teve um desempenho espetacular. Foram quatro agentes diferentes e todos funcionando muito bem. 69 abates, dano médio por round de 135 e um KAST de 65%.
A importância de Less na LOUD
Less desenvolveu uma capacidade absurda de leitura de jogo fundamental para muitas vitórias da LOUD ao longo do ano. Claro que com ajuda dos companheiros e comissão técnica, o famoso timming ficou extremamente apurado.
Muitos afirmam que timming é sorte, mas a realidade é que treinamento e entendimento total do jogo que fazem o jogador saber o momento certo para acertar as jogadas. No caso de Less, ser lurker é fácil. Um grande exemplo é a final da chave superior do Champions contra a OpTic, onde ele deitou em cima dos adversários com várias eliminações precisas.
São poucos jogadores no cenário atual com esta capacidade. Historicamente o Brasil tem fnx, destaque da SK Gaming que enchia os olhos de Less quando criança. A fênix era capaz de fazer lances mágicos, aproveitando apenas seu bom posicionamento e poder de infiltração.
2023 será o experiente
O desafio para Less será ainda maior em 2023. Se mudando para os Estados Unidos, o jovem atingirá a maioridade no Brasil e também terá mais responsabilidade na formação da LOUD. Com a saída de Sacy e pANcada, ele se torna um dos pilares da equipe ao lado de aspas e Saad.
Além disso, terá um papel de ajudar a desenvolver os outros jovens recém-contratados, cauanzin e tuyz que já tem muito talento, mas precisarão passar por toda uma adaptação que ele passou em 2022.
Less é o presente e o futuro do VALORANT, com todo o potencial, inteligência, futuramente pode desempenhar um papel ainda maior em qualquer equipe. Um verdadeiro líder.