O argentino mais brasileiro do cenário de VALORANT não demorou para mostrar todo talento que tem. Não só no servidor, mas a maturidade fora dele foram e são fundamentais para o desenvolvimento da comunidade local.
O ex-jogador da Team Vikings, Matias “Saadhak” Delipetro foi peça fundamental na temporada vitoriosa da equipe. Levar o time para duas competições internacionais, conquistar títulos e criar uma legião de fãs, fazem o 2021 do hermano, especial. E para completar ocupa a 8ª colocação na lista do VALORANT Zone dos melhores jogadores de 2021.
VÍCIO NOS GAMES E SE TORNAR PROFISSIONAL
Todos tem uma pessoa que insere os games na sua vida. No caso de saadhak, o tio o levou para as lan houses na Argentina para jogar Counter-Strike 1.5. Entretanto, a vida mudou quando os pais lhe deram um computador pessoal.
“Aí que começou minha vida. Só jogava CS 1.5, depois joguei muito tempo League of Legends, depois CS:GO. Joguei Overwatch um tempo, gostava pra caralho do jogo”, comentou.
Focado bastante nos jogos, desenvolveu um espírito competitivo e rapidamente buscou torneios na região. A primeira tentativa foi no game da Blizzard, porém sem sucesso. Segundo o jogador, a época, a região na qual estava inserido não era valorizada pela desenvolvedora e não recebia muitos torneios.
PALADINS E APOIO DOS PAIS
Sem oportunidades no Overwatch, migrou para o Paladins. No FPS da Hi-Rez Studios, o sucesso veio. Ao longo dos anos disputou diversos torneios internacionais, defendendo a Nocturns Gaming e a Spacestation Gaming. Foi ali que os pais de saadhak começaram a dar valor ao caminho que o filho escolheu.
“Meus pais aceitavam que eu jogava, mas achavam que não tinha um futuro. Com 17 anos me classifiquei para um torneio nos Estados Unidos. E aí tive que tirar passaporte, fazer o visto, um monte de coisa”, comentou. “No dia que eu fui pro aeroporto com meus pais, eles olharam pra mim e falaram ‘então realmente você está indo para fora jogar um torneio’. Depois desse dia foi que acreditaram em mim, acreditaram que tinha um futuro”, concluiu.
Na Nocturns, saad era um verdadeiro garoto tendo descobertas. Com os companheiros viajou cinco países em um ano e passou por um processo de aprendizado absurdo.
Depois, trocou de equipe, vindo defender os brasileiros da Spacestation. Quase que num prefácio do que aconteceria no VALORANT, ele conheceu Leandro “frzgod” Gomes. A oportunidade de vir para terras vizinhas, aconteceu por maior busca de mentalidade e profissionalismo.
No período em que defendeu o time brasileiro, obteve bastante sucesso. Disputou as edições 2019 e 2020 do Paladins World Championship, o mundial da modalidade. Apesar de não conquistar títulos no tempo de FPS, ele avalia como positivo os três anos no game.
“Eu consegui um monte de títulos no LATAM, teve um ano que não perdemos um jogo. E também morei fora uns três, quatro meses, nos Estados Unidos e foi uma grande experiência. Também aprendi outras línguas, conheci outras culturas como a americana e brasileira. Então para mim foi uma vitória”, disse.
MUDANÇA PARA O VALORANT E SUCESSO NA ESTRAL
Assim como outros jogadores, saadhak entendeu que o VALORANT seria uma grande oportunidade. Para ele, o FPS da Riot Games é o futuro. Entretanto, ele ressalta que não é por conta do dinheiro e sim pelo desafio de ser um novo jogo.
“Eu amo o VALORANT. O que acontecia no Paladins é que quando eu perdia um internacional, um torneio eu tinha que parar de jogar por três semanas, um mês. E com o VALORANT, eu sinto que tenho mais vontade de jogar depois que eu perco. Com dois dias eu quero jogar de novo, quero melhorar, quero ser melhor que era antes. Estou totalmente ligado com o jogo”, afirmou.
Mas, o início no VALORANT foi ainda antes de o FPS ser lançado. Ele conta que chamou o ex-companheiro Agustin “Nozwerr” Ibarra para jogarem CS:GO e pegarem os conceitos similares. A estratégia funcionou e rapidamente formaram a Estral Esports.
Ao lado de nzr e outros nomes agora conhecidos no cenário, como Juan Pablo “NagZ” Lopez e Rodrigo “Onur” Dalmagro, que foram depois para a KRÜ, fizeram história em 2020. No cenário latino-americano, conquistaram praticamente todos os torneios que disputaram, inclusive o First Strike local. Dominaram de ponta a ponta o primeiro oficial da Riot e levaram o título e uma premiação de US$8 mil.
Mesmo dominando o cenário LATAM e dando show nas competições, o contrato do time se expirou no final de 2020 e cada um optou por seguir seu caminho.
CONFIANÇA NA VIKINGS E COMEÇO SURPREENDENTE
Ao final de 2020, saadhak tomou a decisão de vir para o Brasil competir. A experiência obtida na época de Paladins mostrava o quão era necessário para ele vir para um país maior e com mais oportunidades. Para isso ele contou com apoio de Gustavo “Sacy” Rossi. Após se conhecerem nas ranqueadas, o argentino afirmou querer jogar com ele no Brasil e como ele diz: “o resto é história”.
Rapidamente surgiu uma organização que comprasse o projeto, trazendo saadhak para o Brasil e formando a dupla com Sacy. Mesmo com quase nenhum tempo juntos, já mostraram sinergia para conquistar a primeira edição do Ultimasters AOC. Apesar disso, o sucesso não subiu a cabeça de saad e dos companheiros, entendendo que era início de um projeto.
A medida que o VALORANT Challengers foi acontecendo, a equipe foi desenvolvendo o próprio estilo de jogo e superando os adversários de maneira exemplar. Para o primeiro VALORANT Masters no Brasil a Vikings mostrou toda uma soberania.
No Masters Brasil, a Vikings conquistou o título perdendo apenas um mapa. A vitória sólida sobre a Gamelanders, considerado melhor time do país na época, os elevou a outro patamar.
“Nessa época, os times tinham uma base tática muito simples. Ninguém pensava muito no jogo. Por isso que eu falo que a gente tinha uma vantagem. Nós colocamos algumas regras, bases boas e começamos a ganhar fazendo o básico. Então, as coisas que os outros times faziam eram fáceis de ler, com pouca rotação”, comentou.
IDA PARA ISLÂNDIA E FICAR FORA DE BERLIM
Para a segunda etapa do Challengers, a Vikings manteve o ritmo. Com domínio praticamente completo venceu as fases necessárias e garantiu vaga no VALORANT Masters Reykjavík.
A ida para a Islândia foi especial para saadhak. Todo o suporte da Riot Games foi motivo de elogios do então capitão da Vikings. Entretanto, a participação da equipe no torneio internacional foi um divisor de águas para saad e os companheiros. O que ele viu sendo feito por Sentinels, Fnatic, NUTURN Gaming provou que o Brasil estava muito atrasado taticamente.
Quando eles voltaram para o Brasil, acreditaram que o time precisava de uma reconstrução. Por isso, decidiram mudar completamente de composição.
“A gente passou por um período de mudança, de crise de identidade. Eu acho que todo mundo do time aprendeu muito. A gente passou por um período de adaptação. Obviamente foi mais díficil, com todos os esses problemas a gente conseguiu um bom resultado”, comentou.
Aos trancos e barrancos, a equipe conseguiu chegar na fase final do VCB 3. Mas, ainda com a crise de identidade presente, os Vikings acabaram caindo diante da Vivo Keyd, que foi para o Masters de Berlim.
CHAMPIONS E APAGÃO
Já garantidos para o Champions em dezembro, a Vikings ficou três meses apenas se preparando. Para saad, a estratégia foi benéfica até porque não aconteceram competições no Brasil.
A equipe chegou bem no mundial e conseguiu uma sólida vitória sobre a Crazy Raccoon na estreia. Mas, a derrota contra a Gambit, após ter sete oportunidades de fechar a partida foi muito sentida por saad, que assume a responsabilidade.
“Esse jogo foi minha responsabilidade pelo fato que, neste momento, eu falhei como capitão. Quando eles começaram a virar no 12 a 7 a gente deveria ter pausado, cortado o momento deles e voltar a fazer o passo a passo dentro do servidor. A gente ficou esperando muito o momento e aconteceu o que aconteceu”, disse.
Mesmo com a dura derrota, a Vikings foi exaltada pela torcida brasileira pelo grande jogo apresentado, o que é motivo de orgulho para saadhak.
“Brasileiro é maravilhoso nesse aspecto. As pessoas do Brasil tem uma cultura muito acolhedora. O que sabem dar de hate, sabem dar de amor. A gente sentiu muito o opoio. A gente se sentiu muito mais leve, independente do resultado”, comentou.
UM QUASE BRASILEIRO DE MUITA PERSONALIDADE
Saadhak hoje é quase brasileiro. Com o processo em trâmite, é questão de tempo para ser cidadão local e ganhar um CPF. Isso deve ser motivo de orgulho para a comunidade brasileira porque ele é um exemplo de jogador e capitão.
Ao longo de 2021 pôde-se ver um saadhak crítico e sempre fazendo boas pontuações nas redes sociais. Uma equipe que quer ser campeã no VALORANT precisa ter uma pessoa madura como ele no time.
“Eu acho que o mais importante para um capitão é a empatia. Quando você dá uma call, você tem que pensar muito no seu time. ‘O que é o melhor para essa pessoa fazer nesse round?’, então você sempre termina se colocando no lugar do outro. É muito fácil ser um IGL egoísta. Mas o díficil é jogar para o time. Então a maior qualidade para mim é se colocar no lugar da outra pessoa”, afirmou.
Entretanto, existe um equilíbrio nesse processo. saad sabe pensar nele e no próprio desempenho individual, por isso masteriza tão bem os agentes que controla. Quando chegou ao Brasil, mostrou um Cypher que tirava coelho da cartola. Depois, foi se diversificando, assombrou os adversários com a Viper na Bind, fechando o Spike Site A.
Campeonato | Colocação |
Ultimasters AOC | Campeão |
1ª Fase VCB 1 | 1º/2º Lugar |
2º Fase VCB 1 | 3º/4º Lugar |
VALORANT Masters Brasil | Campeão |
1º Fase VCB 2 | 1º/2º Lugar |
2º Fase VCB 2 | 3º/4º Lugar |
VCB Finals 2 | Campeão |
VALORANT Masters da Islândia | 5º/6º Lugar |
1º Fase VCB 3 | 1º/2º Lugar |
2º Fase VCB 2 | 3º/4º Lugar |
VCB Finals 3 | 4º Lugar |
VALORANT Champions | 9º/12º Lugar |
O 8º MELHOR NO BRASIL EM 2021
saadhak esteve presente em, praticamente, todas as grandes competições disputadas no Brasil em 2021. Dos mais de 30 campeonatos que contaram com listas de melhores jogadores do VALORANT Zone, saadhak se fez presente em cinco deles e acumulou 214,6 VALORANT Points.
Toda a jogabilidade segura e punitiva em simultâneo garantiam bons números para o jogador. Apesar de nunca ter sido escolhido MVP de um campeonato, sempre esteve entre os melhores.
Seu ACS de 229 e um dano médio por round de 148.7 são impressionantes para um suporte. Mesmo não garantindo uma eliminação, seu impacto na rodada é fundamental para o restante do time garantir o ponto.
APOSTA PARA 2022
A aposta de saadhak para 2022 é Bryan “pANcada” Luna. O ex-jogador da Stars Horizon sempre teve grande destaque por onde passou, apesar de não ter resultados.
“Ele jogava como controlador na Stars Horizon, sempre muito bem, mas os resultados não o acompanhavam. Não se perde na mira, muito bom. Ele está em um bom nível e se ele não aparecer no próximo top 10 eu não sei o que fazer”, justificou.