Jogador da FURIA, Alexandre “xand” Zizi dispensa apresentação. Um dos nomes mais experientes que o VALORANT brasileiro possui atualmente, o atleta de 26 anos tentou ser modesto ao ser entrevistado pelo VALORANT Zone, mas este que vos escreve afirma que ele fez história no Counter-Strike: Global Offensive, no qual atuava antes do FPS da Riot Games.
E antes que ousem pensar que é parcialidade, por lá, entrou para a história do jogo ao conquistar a vaga para o Starladder Berlin Major 2019, garantindo assim um sticker e colocando o próprio nome em uma das modalidades de maior sucesso de todos os tempos. Pelo VALORANT, já traçou caminhos de vitória e esteve presente no VALORANT Champions, maior torneio já realizado pela desenvolvedora desde quando o jogo foi lançado. Além disso, terminou 2021 na 3ª posição da lista do VALORANT Zone dos melhores jogadores.
O 3º MELHOR DO BRASIL EM 2021
Os 10 melhores jogadores no Brasil em 2021 foram escolhidos com base nas listagens de melhores jogadores dos mais de 30 campeonatos apurados pelo VALORANT Zone no ano de 2021. Uma fórmula foi elaborada, com cada posição dada aos atletas nas listas possuindo um peso e as competições sendo divididas em cinco categorias, cada qual dando uma quantidade específica de pontos. Conquistas coletivas também foram contabilizadas.
Dos mais de 30 torneios cobertos pelo VALORANT Zone em 2021, xand teve o nome presente em dois, com direito a MVP na 2ª fase da 1ª etapa do VALORANT Challengers Brasil (VCB) e do Last Chance. Além disso, brigou pelo título individual também no VALORANT Masters Brasil. Com isso, acumulou 436 VZone Points.
xand em 2021
- 2ª Fase VCB 1 – MVP
- VALORANT Masters Brasil – EVP
- 1ª etapa Copa Rakin 2021 – EVP
- 3ª Fase VCB 3 – EVP
- VCB Finals 3 – EVP
- Last Chance – MVP
Jogando Jett, Skye e Raze, mas principalmente com a Duelista coreana, xand conseguiu alguns dos melhores números no ano. Isso porque o ACS do jogador da FURIA foi de 230,5, nos últimos três meses. Claro que jogar como duelista favorece as estatísticas, mas outros que atuam na mesma função que xand não conseguiram se destacar tanto no decorrer da temporada.
INFÂNCIA TÍPICA DE UM BRASILEIRO
Braço fechado com tatuagem, cara fechada e o jeito paulistano podem passar a impressão errada de quem é o xand. Na trajetória de vida, ele guarda marcas típicas de um brasileiro: infância difícil em cidade do interior, jeito rebelde na escola, apesar das boas notas, e decisões que fazem com que ele pense até hoje sobre o assunto. No meio disso tudo, a perda de um pai “muito inteligente”, segundo o próprio jogador, que “montava, garimpava e fazia algo legal”.
Este que vos escreve tinha um pai exatamente igual que, assim como o de xand, resolveu ir descansar e acompanhar o crescimento do filho de outro lugar. Hoje, quase uma década depois, o pai do jogador da FURIA tem motivos de sobra para se orgulhar, por mais que o próprio filho se cobre e veja diversas cobranças vindas de tudo que é lado.
Apesar de toda a infância difícil, xand conseguiu ter acesso a tudo que todo jovem sempre quis: jogos e videogames. Por mais que tenha se arriscado nos consoles, foi o computador que chamou a atenção do jogador. Não por menos, veria apenas aos 13 anos que era isso que ele queria fazer para o resto da vida. Como se não bastasse, sentiu a adrenalina que é jogar Counter-Strike em uma lan house.
“Desde pequeno o meu pai trabalhava com isso. Desde os quatro ou cinco anos eu tinha computador em casa. A nossa condição era apertada, mas meu pai era muito inteligente, era programador. Ele montava, garimpava e fazia algo legal. Desde os 12 anos eu nunca mais joguei console. Minha praia é totalmente computador”, disse sobre o início da trajetória.
Como a maioria da antiga geração, aprendeu a gostar de competir graças aos locais onde ganhava tempo de internet em troca de dinheiro. Para os mais novos, o nome disso pode ser algo semelhante a “boleto” de um provedor que têm em casa, mas os mais antigos sabem o que é torcer para uma ou duas horas passarem devagar. Isso tudo, e uma ajuda da família, guiou xand até o FPS.
“Todo jogo que eu passei, tentei competir. Desde o Counter-Strike eu participo de competições. No 1.6 só brincava em lan houses, mas meu primo me levou para o Source (Counter-Strike) e já comecei em bons times. Mas, quando entrei, o Source já estava ruim. Disputei algumas vagas, bati na trave, assim como no VALORANT. Sempre indo longe, mas tropeçando. No CS:GO, não… Joguei Pro League, morei fora para competir e treinar”, conta orgulhoso.
ARREPENDIMENTOS E A CHANCE DE MUDAR
Xand sabe o que é ser vitorioso. No Counter-Strike, defendeu grandes organizações como Furious Gaming, INTZ, Yeah Gaming e 9z. Apesar de ter diversos títulos e uma ida ao Major no currículo, o jogador já está experiente o bastante para saber que poderia ter conseguido mais. Assim como todo grande talento, mas da cobrança pessoal uma das maiores da vida, e diz pensar até hoje em decisões tomadas.
“Eu estagnei no Counter-Strike. Tomei má decisões que me arrependo e passam na minha cabeça todos os dias. Talvez por dedicação, por fama e diversos erros que eu cometi, me estagnei. No VALORANT é a minha oportunidade de ser um dos melhores e botar o meu nome na história. No Counter-Strike eu tenho o meu sticker, mas eu quero ir além”, revela.
Assim como diversos outros jogadores, xand optou por mudar. E deu certo. A brincadeira como TERROR.NET logo se transformou em B4, ainda em 2020, e se tornou FURIA logo na sequência. De lá para cá, a organização vem sendo casa do jogador e local onde ele conseguiu ir ainda mais longe no cenário competitivo do FPS da Riot Games.
UM ANO DE ACERTOS
Um dos mais experientes da FURIA, o jogador soube reconhecer todo o potencial que ele possuía ao lado dele, principalmente nesta temporada. Mesmo batendo na trave em algumas oportunidades, xand soube observar tudo que foi entregue pelo quinteto e perceber que mesmo não tendo ido tão longe quanto gostaria, fez frente a alguns dos maiores do cenário.
“Eu tinha os melhores jogadores que eu poderia ter ao meu lado. A expectativa e as impressões que eu tive eram muito altas. A gente foi o time mais constante do ano, não tenho dúvidas disso. Desde o começo do ano fizemos bons jogos, enfrentamos a Gamelanders e ganhamos. A gente mostrou para o que veio. Até mesmo no Champions, mostramos que poderíamos ter ganhado da KRÜ”.
Com a temporada tendo chegado ao fim, o jogador da FURIA consegue analisar com mais calma tudo que poderia ter feito diferente. Sem colocar a culpa em nenhum companheiro de equipe, xand avalia que “cabeça, maturidade e experiência” – no caso a falta delas – foram as principais pedras no caminho da organização para alçar voos ainda mais altos na última temporada.
“O que faltou foi cabeça, maturidade e experiência. Uma mescla de diversas coisas. Seja por erro meu, seja por nervosismo. Acabamos errando e pecando. Sempre nesses detalhes, a gente deslizava. No final, a gente conseguiu melhorar bastante. A gente abriu mão de todos os campeonatos menores. Deixamos de jogar vários e, querendo ou não, poderíamos ter pego um título aqui e um ali, e dado uma moral legal”.
Entretanto, há quem sequer coloque defeitos nesta temporada da FURIA. Em números, faltou pouco para o time não ter um ano impecável. Isso porque a equipe conseguiu excelentes performances em praticamente todos os Challengers que disputou nesta temporada. Além disso, chegou até a semifinal do VALORANT Masters realizado no Brasil e abocanhou o Last Chance da América do Sul para ir ao Champions.
Campeonato | Colocação |
1ª Fase VCB 1 | 1º/2º Lugar |
2ª Fase VCB 1 | 3º/4º Lugar |
VALORANT Masters Brasil | 3º Lugar |
1ª Fase VCB 2 | 1º/2º Lugar |
2ª Fase VCB 2 | 1º/2º Lugar |
VCB Finals 2 | 3º Lugar |
1ª etapa Copa Rakin 2021 | Vice-campeão |
1ª Fase VCB 3 | 3º/4º Lugar |
3ª Fase VCB 3 | 1º/2º Lugar |
VCB Finals 3 | 3º Lugar |
Last Chance | Campeão |
VALORANT Champions | 13º/16º Lugar |
REDENÇÃO
Independentemente dos resultados conquistados no decorrer da última temporada, xand parece ter visto outros pontos positivos em 2021 que não estão ligados ao servidor. Em entrevista, o jogador deixou o jeito fechado de lado e desabafou sobre como tem se sentido bem com a forma no qual a comunidade passou a enxergá-lo.
Muito mais que o terror psicológico dos adversários em torneios presenciais, xand mostrou um lado mais humano e fez valer da influência nas redes sociais para ajudar o próximo. Recentemente, por exemplo, conseguiu reunir a comunidade por meio das transmissões na Twitch e arrecadou R$ 13 mil para auxiliar moradores de rua com doações no Natal.
“Eu sinto muito orgulho de mim, de ter arriscado tudo. Sou tão julgado, tão pressionado… Nos últimos tempos, as pessoas estão me conhecendo melhor. Seja pelas boas ações, ou seja por estar evoluindo como pessoa e como profissional. Eu erro muito, mas acerto muito e gosto quando as pessoas começam a reconhecer isso. Eu fico feliz de ver que o pessoal tem me apoiado muito mais do que criticado”.
2022 E BOLD PREDICTION
Só o próprio xand sabe o que o aguarda para 2022. Entretanto, o jogador se mostrou com mais vontade do que nunca de vencer e não deixar mais nenhuma oportunidade escapar. Entretanto, sabe que esta temporada de VALORANT tem de tudo para ser “a maior”, além disso, prevê a chegada de grandes organizações e times cada vez mais fortes sendo formados.
“A gente provou que a gente consegue trocar tiro com eles lá fora. Falando de mim e do meu time, estou muito confiante. A gente vai se desempenhar bem. Esse não foi o ano de destaque do xand, mas foi um ano de constância absurda. Eu estava em todos os campeonatos, praticamente em todas as finais”.
Da tradução literal, bold prediction significa “previsão ousada”. Este termo é utilizado em pesquisas com jogadores que se destacaram e dão palpites de quem será um dos possíveis nomes que tem de tudo para aparecer entre gigantes em breve. Categórico, xand coloca “kauazin” como a aposta para a temporada: “Moleque é surreal. Muito novo, e boto a minha mão no fogo que ele vai estar aqui em 2022”.