Não é segredo que o anúncio de um novo FPS durante o 10º aniversário de League of Legends fez brilhar os olhos de muitos atletas. Com o melhor jogador do Brasil em 2020, escolhido pelo VALORANT Zone, não foi diferente. A bagagem é extensa, mas com tamanhos títulos, prova que todo o percurso valeu à pena.
Da paixão pelo esporte tradicional à decisão de investir na modalidade eletrônica, conheça o fenômeno do VALORANT brasileiro: Leonardo “mwzera” Serrati.
INFÂNCIA E JOGOS
Leonardo Serrati é um menino natural de Santo André, cidade do ABC paulista, que passou por uma infância trivial.
Desde muito pequeno, o andreense gostava muito de competir. A primeira paixão esportiva foi o futebol, como muitos brasileiros. Foi aí que, durante seus primeiros anos de vida, Leonardo começou a se dedicar ao bom e velho esporte tradicional.
Ao passar dos anos, teve o primeiro contato com o gênero de FPS com Blackshot quando “uma rapaziada da rua indicou”. Em 2014, ver competidores de Counter-Strike como Gabriel “FalleN” Toledo viajarem o mundo para jogar o fez despertar para uma possível oportunidade que começara a surgir.
Apesar das limitações técnicas, como um bom computador, mzwera começou a dedicar-se ao esporte eletrônico. Mesmo jovem, tamanho empenho e a perspectiva de carreira o fizeram abandonar de vez o esporte tradicional para investir no meio eletrônico. No início, a família do competidor não compreendia como os esportes eletrônicos funcionavam, então não era uma realidade palpável já que, na época, era um mercado que estava dando os primeiros passos em solo brasileiro.
Ainda é difícil entender a carreira de atletas de esportes eletrônicos, já que é uma profissão nova. Entretanto, com tamanhas conquistas no VALORANT, é inegável que o jogador tenha recebido apoio e incentivo familiar para seguir e alcançar seus sonhos. “Todos os players já passaram por isso com a família, mas é muito tranquilo (atualmente)”, declara o competidor.
ENTRANDO DE CABEÇA
Para consolidar-se no meio, um atleta deve escolher um nome marcante. A escolha de um apelido não foi complicado para o jogador. Desde a época que se dedicava ao jogo Blackshot (2008), usava nomes com o prefixo “mw”. Após tornar-se um grande fã de Marcelo “coldzera” David, adotou de vez o sufixo “zera”. Assim surgiu o apelido de Leonardo usado para competir: mwzera.
Apesar de uma carreira marcada pelos jogos da Vertigo e da Valve, mw não considera tais FPS como pontapé inicial de sua trajetória como atleta de esportes eletrônicos. O marco zero da história esportiva começa em 2018, quando o jogador migrou para o Zula durante seu último ano do ensino médio. Em tal oportunidade, Leonardo vestiu a camisa da Black Dragons ao lado de Jonathan “JhoW” Glória e Walney “Jonn” Reis – companheiros de equipe na Gamelanders.
ÍDOLOS E EXPECTATIVAS
Mesmo com carreira ainda muito nova, Leonardo almeja fazer parte da história de VALORANT algum dia como FalleN e Coldzera em Counter Strike. O atleta afirma que “deve ser muito louco, muito f&*@” ser tão marcante em um jogo. Mwzera internaliza que “o que eles [Taco, Fer, FalleN e Coldzera] fizeram, ninguém no mundo vai fazer”, mas determina que sua equipe aspira por grandes conquistas na modalidade.
Apesar de tamanha admiração, ele e sua equipe não almejam tecer uma trajetória pautada nas vitórias dos ídolos: querem ser originais. “A gente quer construir a nossa história, a história da Gamelanders”, registra mwzera. “Algo muito, muito grande”.
DO AMADOR AO PROFISSIONAL
Mwzera começou a ganhar experiência competitiva em meados de 2014, ao competir em torneios amadores de Counter-Strike e Blackshot. Limitado por infraestrutura por causa das “condições do meu pc eram muito ruins” e também idade, o futuro atleta não chegou a participar de campeonatos mais significativos. Apesar disso, foram essenciais para bagagem competitiva, já que era “muito jovem e não sabia seguir as pessoas certas no time” e acabou aprendendo com o tempo.
Em 2018, mergulhou de cabeça nos esportes eletrônicos em Zula. O FPS, mesmo que novo, chegou a consolidar um cenário brasileiro rapidamente. O campeonato mundial da modalidade chegou a premiar 100 mil dólares, e a Black Dragons de mwzera, JhoW e Jonn “dominou o cenário brasileiro”. Entretanto, o cenário competitivo do jogo apresentou-se pouco promissor para o atleta, já que começou a falir quando o título tornou-se “pay to win”.
De tal maneira, mw migrou para o Rainbow Six Siege acompanhado de JhoW. Na modalidade da Ubisoft, competiu cerca de 1 ano acompanhado do amigo. Do segundo semestre de 2019 ao lançamento de VALORANT, mwzera chegou a competir no Tier 2 do jogo. Entretanto, logo que conquistou a posição, migrou de vez para o FPS da Riot Games.
VALORANT, AÍ VOU EU!
Com grande bagagem em FPS, mwzera não sofreu muitas dificuldades ao migrar pro promissor novo FPS do mercado. Segundo ele, o maior empecilho foi acostumar-se “à movimentação” do jogo.
O ex-jogador de Rainbow Six confirma que o jogo da Ubisoft o ajudou a “se adaptar aos bonecos diferentes”, já que cada operador possui habilidades específicas, assim como os agentes. Fatores como mira e reflexo já foram construídos durante a caminhada de cerca de 6 anos no gênero.
GAMELANDERS
A equipe vencedora do First Strike brasileiro e do primeiro Gamers Club Ultimate começou de maneira singela: nas ranqueadas do VALORANT na América do Norte.
Desde o beta, Fernando “fznn” Cerqueira, Guilherme “Nyang” Coelho Jonn, JhoW e mwzera se esbarravam na fila. O ponto chave da equipe foi fznn, que havia jogado com todos os atuais membros e fez a conexão entre eles.
A dupla Nyang e fznn propôs ao trio de mwzera, Jonn e JhoW que se juntassem para competir os torneios já que, além de se encontravam com tremenda frequência, também haviam testado muitos jogadores e tinham certeza que todos eram muito bons.
A partir daí, é história: Gamelanders se consolida no cenário como vencedor da Copa Rakin I e junta-se ao manager Daniel “Blury” Sarkovas e à Final Level. Logo depois, adiciona Felipe “Katraka” Carvajal e, posteriormente, Iara Rodrigo ao time técnico, e torna-se um dos principais times do Brasil e do mundo, conquistando dois títulos em torneios oficiais.
“Por mais que a gente conheça o potencial de outros times […] a gente sempre vai buscar o Top 1. E sim: desde o começo a gente esperava que ia ser o Top 1” afirma o jogador sobre o título de melhor time de 2020 após o First Strike Brasil.
Atualmente, a Gamelanders ocupa a 3ª posição no ranque do VLR.GG que inclui todos os times do mundo, estando atrás da equipe coreana Vision Strikers e da europeia G2 Esports.
SOBRE SER INFLUENTE
Não é segredo que mwzera é um dos principais, e eleito pelo VALORANT Zone o principal jogador do Brasil de 2020. Em vista disso, a pressão do público com expectativas fica cada vez maior.
“Não esperava ter chegado assim tão longe”, declara o jogador sobre a rápida ascensão na popularidade entre a comunidade casual e competitiva. Hoje, mw acumula fãs que querem até mesmo saber quais os equipamentos que o jogador usa para tentarem extrair algo da performance do atleta.
Acerca dos primórdios do FPS da Riot Games e competições, assume que se abalava por alguns comentários, mas que, com o tempo, acabou acostumando-se às críticas e eventuais farpas. Com muito orgulho, cita o apoio essencial dos torcedores de sua equipe: “A fanbase da Gamelanders é muito boa em relação à isso, eles não pressionam os players” e são muito fiéis.
Apesar do bom mindset e grande apoio, revela que em “época de campeonato a gente mal entra em rede social” para evitar que quaisquer mensagens, sejam elas de adversários ou torcedores, os afetem de alguma maneira.
PERFORMANCE E PREFERÊNCIAS
Durante o segundo semestre de 2020, mwzera foi o jogador que mais acumulou pontuação de combate. Ele detém 294 de Pontuação de Combate (ACS) média, além de contar com um KD de 1.48 e média de dano por round no valor de 173. Os números são do The Spike.
Sobre escolhas pessoais, Raze e Jett são as agentes mais jogadas por mw, com 34 e 27 partidas em torneios, respectivamente. A preferência pela agente brasileira é declarada pelo atleta. Entretanto, mwzera relembra as partidas no servidor NA, quando tinha preferência por Brimstone e Breach. O atual duelista recorda do primeiro contato com a Raze: “falavam que era muito difícil jogar com ela”.
Apesar disso, ele não sentiu muita dificuldade, já que o kit da agente era extremamente forte. ”Mano, esse boneco é muito roubado. É o boneco mais roubado do jogo. É esse boneco que eu quero jogar, rapaziada.” diz o ele enquanto revive a primeira partida de Raze. “O boneco que eu mais gosto de jogar e me sinto confortável é a baianinha“. Já acerca de armas, a mais utilizada pelo atleta é a Phantom, segundo o thespike.
AUTO-AVALIAÇÃO
Revela que desde o início do jogo, almejava chegar no topo do VALORANT, mas não acreditava que chegaria tão rápido. “Queria chegar no alto nível, mas não esperava que eu teria o desempenho que tive esse ano. Muito por conta do meu time consegui chegar nesse nível”, jura o jogador.
Embora tenha conquistado grandes resultados, a auto-cobrança do atleta é muito presente para que desempenhe cada vez mais: “não parei de treinar desde que acabou o First Strike porque ano que vem quero ser melhor ainda“. Sobre o semestre, relembra as inesperadas proezas, e confessa que “esse ano de 2020 foi uma surpresa e fico feliz que deu bom, pra mim e pro meu time“.
O MWZERA DE 2021
O próximo ano é extremamente promissor com a VALORANT Champions Tour. O atleta está treinando muito o individual para ter boa performance, e declara que o que quer de 2021 é, principalmente, “jogar e ganhar um mundial“. Além disso, anseia tornar-se cada vez mais forte junto ao time, e fazer da Gamelanders um time extremamente consistente no cenário nacional e internacional. Mwzera de 2021 promete um desempenho sem freios.