A história se repete, só para mostrar a grandeza daqueles que alcançaram o topo mais de uma vez. Pelo segundo ano consecutivo, Paula “bstrdd” Naguil ocupa a 1ª colocação da lista do VALORANT Zone das melhores jogadoras. Em um ano mágico para a chilena, que contou com superações e reviravoltas, a jogadora mostrou que além de talento, sempre teve muita dedicação.
A jogadora realizou o sonho do pai, em ser atleta profissional de esportes eletrônicos, e esse ano, representou a América do Sul no primeiro mundial feminino. Paula mostrou, que até o maior palco do cenário, ficou pequeno para ela. A jogadora da Team Liquid mostrou para o mundo quem é Paula Naguil, carinhosamente apelidada de “bastardinha”.
Influência e apoio do pai
O primeiro contato da chilena com os jogos digitais foi na infância e tudo graças ao pai. A influência da figura paterna fez com que a bstrdd começasse a jogar com 10 anos de idade. Um ano depois, já estava interessada em Resident Evil e Counter-Strike 1.6, dois grandes títulos que permearam histórias de diversos campeões.
“Eu só tinha 10 anos no CS 1.6. Já no CS:GO eu nunca tive a oportunidade de jogar profissionalmente porque estava na escola e entrando para a faculdade. Além disso, eu não tinha um PC bom. Nunca tive grana para ter um PC bom. Meu pai nunca conseguiu comprar um PC para mim até o ano passado, quando começou o VALORANT“
O início não foi fácil, com pouca idade e sem o equipamento apropriado para jogar e sonhar em competir, bstrdd seguiu com os estudos e entrou para a faculdade. Mas o mundo virou de cabeça para baixo quando a Riot Games anunciou o VALORANT.
O caminho para se tornar uma jogadora profissional era difícil, mas o apoio do pai tornou essa jornada mais fácil e calorosa para a chilena. “Meu pai foi o primeiro que me apoiou nesse sentido. Ele falava ‘sempre foi meu sonho. Foi um sonho que sempre tive e que você pode realizar’. Sempre me apoiou nesse sentido“.
Decisões e escolhas
O lançamento do FPS da Riot movimentou o cenário competitivo no mundo inteiro, e também deu uma nova chance para aqueles que até pensavam em desistir. Apaixonada por Counter-Strike, Paula decidiu dar uma oportunidade ao jogo, já que muitos de seus amigos só falavam desse novo título.
Apesar de ter testado o VALORANT, bstrdd nem sonhava em se tornar uma jogadora profissional desse novo FPS, a chilena era fiel ao CS:GO, mesmo com a influência dos colegas.
“Eu era apaixonada pelo CS:GO, mas todos os meus amigos estavam falando disso, que iam jogar VALORANT e que era parecido com o CS:GO. Eu tive esse PC em maior e o beta já tinha lançado. Aí eu comecei a jogar com meus amigos, mas nunca tive interesse de jogar competitivo, de migrar para o jogo porque eu queria jogar CS:GO”.
Assim como o mundo inteiro, a história de bstrdd também foi afetada pela pandemia da COVID-19, que chegou no início de 2020 ao Brasil e na América do Sul. Com mais tempo para ir atrás do sonho, a chilena mudou de ideia e decidiu disputar alguns torneios de VALORANT. Essa decisão foi tomada por outro interesse, a vontade de jogar com brasileiras.
Em meados de outubro de 2020, bstrdd se juntou à Ana “naxy” Beatriz, Paola “drn” Caroline, Nathalia “nanah” Hammoud e Analia ”queen” Ropero pelo time feminino da Meta Gaming.
“Recebei uma grana que achei boa. Eu só ia porque ia jogar com as melhores no Brasil, que eram naxy, drn e nanah. Era um sonho do CS, competir com brasileiras. Aceitei e gostei porque eu sempre quis competir e também porque estava achando que estava boa no jogo, o que me motivava. Só que eu tinha a faculdade no meio”.
A faculdade logo se tornou uma preocupação para a jogadora, e aí veio duas decisões difíceis: deixar a faculdade e abrir mão do sonho de ser atleta de CS:GO. Não demorou até que a jovem atleta começasse a colher os frutos dessa decisão. Aos poucos, bstrdd chamou atenção de uma região inteira.
Ano com a Gamelanders
Em 2021, o ano que começou oficialmente a temporada competitiva de VALORANT no mundo, bstrdd, naxy, drn, Natália “daiki” Vilela e Natália “nat1” Menses assinaram com a Gamelanders em janeiro. A equipe que defendeu o nome de Gamelanders Purple (GLP), fez história no cenário, mas toda equipe campeã passa por dificuldades.
“Tinham outros times interessados por nós, mas a melhor opção sempre foi a Gamelanders. Para mim foi um prazer porque nesse tempo (que comecei), a Gamelanders era a melhor organização no masculino e eu era muito fã da organização e foi um prazer jogar com as melhores”.
No início, demorou alguns campeonatos até o time embalar. A primeira final do quinteto foi a Women’s Community Festival contra a INTZ Angels. Em um duelo espetacular, a GLP saiu com o 2º lugar após perder por 3 a 2. Como toda história de equipes campeãs, a derrota faz parte da trajetória e foi isso que fez com que o time se tornasse o melhor do Brasil.
“Eu tinha uma perspectiva muito ruim de mim, mas mudei ao longo do tempo porque, no começo, quase desisti por perder muito, chegar em finais e não ganhar”, comentou bstrdd sobre o início difícil no VALORANT.
A chilena até cogitou, mas a força de vontade dela e do quarteto foi maior. Na segunda final que a GLP disputou em 2021, Protocolo Gêneses do Game Changers, a equipe devolveu a derrota para INTZ. Com um 2 a 0, bstrdd conquistou seu primeiro título, que foi pra lá de emocionante.
“Foi a minha primeira vitória. Eu chorei. Foi muito emocionante porque depois de três finais eu consegui ganhar. Para mim foi uma realização. Emociona”.
O título deu alívio ao time que encontrava aos poucos para lidar com a adaptação das jogadoras. Um mês depois, no Sakuras Ascent Act 1, a equipe voltou para uma grande final. Dessa vez, contra a Jaguares e em uma série melhor de cinco mapas (MD5). Em uma apresentação sólida, a GL Purple não deu chances para o time adversário que foi derrotado por um 3 a 0.
Derrotas e desencontro de ideias, bstrdd contou com um time unido que aprendeu a confiar umas nas outras. O resultado do esforço coletivo resultou em 13 títulos e dois vice-campeonatos. O ano ficou marcado como a Era Gamelanders no cenário feminino.
A consistência do time chamou atenção de grandes organizações e o quinteto da GLP se transferiu para a Team Liquid em janeiro de 2022, o próximo capítulo da jornada vitoriosa da chilena.
Representando a cavalaria
Após rumores sobre a transferência do quinteto e da comissão técnica, a Liquid anunciou a chegada do grupo campeão que dominou o cenário. Em um grupo unido, com uma relação próxima da comissão e staffs, a equipe teve um ano sem falhas.
Os campeonatos oficiais da cena feminina só começaram em fevereiro, sendo assim, a equipe realizou o primeiro de três bootcamps no ano. O quinteto viajou para Utretch, nos Países Baixos, local onde a Liquid tem um training facility.
Em uma nova experiência, a equipe teve a chance de jogar contra o time misto da Liquid, que disputava o VALORANT Challengers EMEA e também pôde treinar com outras equipes femininas da Europa, o que foi fundamental no fim do ano.
O formato dos torneios femininos seguiram o mesmo padrão de 2021, com as seletivas para os eventos principais do Game Changers Brasil, que contou com duas edições. Se no ano passado a equipe teve um início difícil, 2022 foi perfeito. De nove torneios oficiais disputados no cenário feminino, a Liquid venceu os nove.
No meio da maratona de campeonatos oficiais, a Liquid só caiu precocemente no Gamers Club Elite Cup, campeonato que reuniu os melhores times do Game Changers com os últimos colocados do VALORANT Challengers Brasil (VCB). Apesar da eliminação, os jogos foram essenciais para a equipe amadurecer.
Implacável, a Liquid viveu sua maior dificuldade na 2ª edição do Game Changers Brasil. Na estreira, a equipe teve um confronto difícil contra o MIBR, que teve o primeiro mapa decidido na prorrogação. A cavalaria cravou a vitória e jogou a semifinal da chave superior contra a B4 Angels, maior rival que teve em 2021, quando ainda eram Gamelanders.
Pouquíssimas equipes venceram um mapa da Liquid, e a B4 conseguiu vencer a Fracture com um placar de 13 a 4. No desempate, o jogo foi acirrado, mas a cavalaria selou com um 13 a 10. Na final da chave dos vencedores, a Liquid enfrentou o primeiro teste, se quisessem o título e, a vaga para o mundial feminino, teriam que passar por todas as dificuldades.
Contra a ODDIK Bright, a Icebox foi tranquila, mas as adversárias empataram com uma Fracture difícil. O show foi na Haven. A ODDIK abriu um 10 a 3, e ficou apenas três rounds de vencer e mandar a cavalaria para a chave inferior e encerrar a invencibilidade de meses.
A reviravolta começou com o 4º ponto da Liquid, que ascendeu a chama da vitória. A cada rodada, a vantagem diminuía até chegar no 10 a 10. A ODDIK voltou a pontuar, mas a cavalaria estava determinada em levar a vitória. Na prorrogação, a equipe virou o placar com um 14 a 12 e garantiu a vaga na final. Mais uma para bstrdd.
Há quem achou que o melhor jogo tinha sido contra a ODDIK, mas a final tinha algo maior guardado para os torcedores. Diferente de todos os outros confrontos, as jogadoras sentiram a pressão de garantir o título e a vaga. O jogo era tudo ou nada para a cavalaria e B4.
O segundo confronto foi repleto de emoção, aqueles que acompanharam se emocionaram até o fim. Poderia ser roteiro de cinema, mas foi mais um desafio vencido pela Liquid. Na final de MD5, a B4 impôs o jogo e abriu um 2 a 0. Contra tudo e todos, a equipe foi round a round para buscar o principal objetivo da temporada.
No início do 3º mapa, as expressões das jogadoras eram diferentes. A realidade estava bem na frente e elas sabiam disso. A Ascent foi o início da virada de chave, que não foi nada fácil. A B4 lutou até o fim, queria a vaga, mas elas “não queriam mais que nós”, frase dita pela Liquid.
Depois do 14 a 12, a Breeze foi a partida para a cavalaria manter a calma, e sem muitos sustos, venceu por 13 a 4. Tudo igual para a Haven, mesmo mapa que a Liquid teve a vitória história contra a ODDIK Bright. A cada rodada vencida pelo time, o choro na garganta aos poucos se soltava.
No 13º ponto, a equipe desabou em lágrimas. A virada, conhecida como “reverse sweep” marcou o espetáculo que todos esperavam. Não poderia ser diferente, a Liquid venceu a maior prova de todas e o mesmo quinteto de 2021, se consagrou como o melhor do Brasil nessa temporada.
Topo do mundo
Pela primeira vez, o cenário feminino recebeu um campeonato mundial, o Game Changers Championship. Com apenas uma vaga para o Brasil, a Team Liquid ficou encarregada da dura missão de representar uma região que merecia mais, muito mais.
Para a última etapa do ano, a equipe realizou outro bootcamp para chegar com carga máxima. Em um ano repleto de conquistas, há quem duvidava da força das brasileiras e de bstrdd, que mostrou um amadurecimento constante.
O primeiro desafio foi contra a FENNEL Hotelava, equipe do Japão. Com um susto na Icebox, a Liquid fechou com vitória. Na semifinal, o duelo foi com a Shopify Rebellion GC, segundo melhor time da América do Norte. O primeiro mapa foi doloroso e ficou para as norte-americanas. Mais uma vez, a Liquid se mostrou maior e melhor. Com e sem prorrogação, a equipe virou a série por 2 a 1.
Provavelmente o confronto mais esperado do ano, a final da chave superior foi Team Liquid e G2 Gozen. Equipes que se conheciam bem dentro e fora dos servidores. Nos treinos na Europa, os jogos foram intensos e a G2 mostrou respeito ao time que elas sabiam que eram fortes.
Na entrada do palco, as jogadoras combinaram poses juntas, mostrando a verdadeira união do cenário feminino que tanto lutaram. A amizade e o respeito acima de tudo, com duas equipes incríveis, o jogo foi digno de uma final de mundial.
A Liquid começou melhor na Ascent, mas em jogo que vale a vida, cada segundo conta. Em um mapa que se desenrolava para a cavalaria, a equipe europeia virou o jogo e venceu na prorrogação. Na Breeze, outro placar próximo, que mostrou o ponto alto dos dois times. Por detalhes, a G2 venceu o mapa e a série por 2 a 0.
A derrota foi doída, principalmente porque o quinteto sabia que estavam bem próximas do triunfo. No palco principal de sua vida, bstrdd mostrou que além de uma grande jogadora, é uma das pessoas mais carismáticas que a comunidade de VALORANT poderia ter.
Entre sorrisos e clutches, a jogadora não escondia a felicidade de poder representar o seu país. “Eu pessoalmente estou jogando com confiança, estou jogando sem pressão porque já cheguei aqui e estou vivendo um sonho, então não preciso ter pressão porque já consegui tudo o que eu queria. Isso me deixa um pouco confiante nesse sentido“, afirmou a atleta em uma entrevista coletiva na época.
Na repescagem contra a Shopify, o aprendizado doloroso veio. A equipe norte-americana que havia derrotado a Cloud9 White no mesmo dia, teve um desempenho melhor que a cavalaria. O 2 a 0 colocou um fim na jornada da Liquid no mundial.
Para aqueles que não acreditavam ou ainda duvidavam do potencial de bstrdd, a atleta mostrou que esse é apenas o começo de uma grande carreira. No topo do Brasil, a Liquid encerrou o Game Changers Championship no pódio, a 3ª melhor equipe do mundo.
Números da melhor no Brasil em 2022
A cada ano que passa, aquela decisão lá trás de deixar a faculdade faz cada vez mais sentido. Como grandes jogadores e atletas, bstrdd nasceu para competir. Nesse ano, a jogadora teve números incríveis com 265.3 de ACS, KD de 1.35, ADR de 169.1 e KAST de 73%.
De todos os campeonatos conquistados, bstrdd foi destaque em todos com direito a seis MVPS. Tudo isso com os três agentes mais usados pela jogadora, que foram Jett, Skye e Chamber.
O que esperar de 2023?
O próximo ano será ainda mais desafiador para bstrdd e a Liquid. Em uma conversa com o VZone no início de dezembro, a capitã, daiki falou que o foco será o cenário misto. O desejo já era antigo, mas a vontade sairá do papel e se tornará uma meta.
Com o sucesso do Game Changers Championship, é esperado que outra edição aconteça em 2023, que também vai tomar a atenção da cavalaria. Os novos torneios darão mais oportunidades para bstrdd continuar sua trilha de vitórias e alcançar outro patamar em sua carreira, e esperançosamente, um possível título mundial. A chilena mostrará que para ela, o céu é o limite.
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