Especial

As melhores no Brasil em 2022 – Natália “nat1” Meneses (5)

Jogadora foi um dos grandes destaques da Team Liquid neste ano e contou um pouco da trajetória até o topo do cenário competitivo

No decorrer da vida, fazer escolhas são fundamentais e fazem parte do processo de amadurecimento e evolução pessoal de cada um. Hoje uma das principais jogadores de VALORANT do cenário competitivo brasileiro e mundial, Natália Meneses poderia nem ser conhecida como “nat1” se não tivesse optado por mudar radicalmente o próprio destino.

Jogadora da Team Liquid e uma das principais peças do elenco, nat1 vivia uma vida normal de estudante de Ciência da Computação, onde trabalhou por quatro anos na área de T.I antes de decidir se tornar uma jogadora profissional. Na realidade, a própria atleta destaca que não foi um caminho que escolheu, mas que simplesmente viu acontecer de forma natural.

“Eu nunca tomei essa decisão [de se tornar uma jogadora profissional], ela que aconteceu. Eu jogava com o meu irmão e meus amigos da rua. Quando eles pararam, eu comecei a jogar online. Conheci uma menina também do Rio de Janeiro e jogava e nós viramos amigas. Até que um dia ela achou que eu era boa o suficiente para jogar no time dela e me chamou”, disse nat1 ao VALORANT Zone.

Das pistas de skate aos servidores de VALORANT, nat1 é um dos grandes nomes da Team Liquid (Reprodução/Instagram)

Natália não falou ao portal o nome da amiga que a incentivou a atuar competitivamente, mas sem dúvidas ela é um ponto importante na história da jogadora que se tornaria uma das principais da modalidade no país. Entretanto, antes de brilhar nos palcos da Riot Games empilhando troféus de VALORANT, nat1 teve uma breve passagem pelo “pai” do jogo: o Counter-Strike.

Um caminho tortuoso no Counter-Strike

O caminho era o mais natural em uma época onde as pessoas viveram o sucesso das lan houses no Brasil. Em todas onde se ia pelo menos alguns computadores estavam ligados com o jogo da Valve, geralmente em mapas feitos mais para a comunidade, como fy_pool_day, fy_iceworld, de_aztec ou tantos outros de sucesso. E foi exatamente dessa forma, assim como a maioria dos profissionais de hoje em dia, que ela deu os primeiros passos nos jogos.

“Eu jogo FPS desde os meus 14 anos. Jogava na época das lan houses com meu irmão e o pessoal da minha rua. Nessa época, o Counter-Strike era uma febre. Não conheci uma pessoa da minha idade que não sabia o que era. O pessoal foi ficando velho, acabou parando e eu estava muito apaixonada pelo jogo e comecei a jogar online, fazer amigos e jogar com uma galera”.

Quem passou a acompanhar a nat1 no VALORANT pode não saber tudo que a nat, ainda sem o 1, passou na época do Counter-Strike. Longe de conseguir todas as conquistar que teria no FPS da Riot Games, atuou competitivamente pela Pichau.f, ProGaming, Team oNe RED e, por fim, Santos Female por empréstimo. No intervalo de três anos teve na Liga Feminina da Gamers Club as principais conquistas da carreira.

Nat1 nos tempos de Counter-Strike: Global Offensive | (Divulgação/DRAFT5)

Entretanto, muito se engana quem acredita que nat1 não guarda coisas positivas do concorrente do VALORANT. A jogadora afirmou que foi lá que ela conseguiu aprender a base de tudo que sabe hoje. Entre as principais coisas que um jogador pode saber, está a forma de se portar em uma equipe de maneira coletiva.

“O Counter-Strike: Global Offensive foi o jogo onde eu aprendi quase tudo sobre FPS e toda a minha base. Aprendi realmente o que é uma rotina de jogador, como lidar em time, entre outras coisas. Sou muito grata a tudo que passei lá. Mas o time era bem pouco profissional na época e tomei a decisão de seguir outra carreira quando já não me brilhava mais os olhos está ali”, revelou nat1.

Com espírito competitivo desde sempre, a jogadora da Team Liquid destaca que o lançamento do VALORANT foi algo que fez com que ela voltasse a sentir o desejo de competir. Além disso, se deu conta de que a carreira no Counter-Stirke não tinha terminado da forma como queria, e viu no jogo da Riot Games a oportunidade de começar um trabalho do zero.

Trajetória de sucesso no VALORANT desde o início

No decorrer da vida as pessoas vão descobrindo que nenhum processo de mudança acontece da noite para o dia de uma maneira fácil. Entretanto, nat1 não tem muito do que reclamar quando se trata da decisão de seguir uma vida competitiva no jogo da Riot Games. Ainda atuando pela Fake dos Fakes, venceu a Rivals Women’s Cup 2, primeira competição que disputou no cenário.

A qualidade técnica do cenário feminino era iminente, e nat1 não tardou para entrar o grupo de jogadoras que hoje formariam o elenco da Team Liquid. A determinação e vontade de vencer deu às jogadoras a oportunidade de serem contratadas pela Gamelanders Purple. Na época, a organização vivia o melhor momento no cenário feminino e tinha a chance de investir em um bom elenco.

Pouco a pouco, não apenas nat1, mas todas as jogadoras da Gamelanders Purple iam entrando para a história do competitivo brasileiro. No ano passado, a equipe venceu 13 competições e classificatórias, passando a ser reconhecida como a melhor equipe de VALORANT do Brasil. Entre Gaming Culture Girl Power, Rivals Women’s Cup 3, SBT Games VALORANT All Stars e Protocolo: Gêneses e Evolução, o quinteto passou o trator em tudo.

Game Changers Series Brasil
Divulgação/Gamelanders

Diferente do que viveu no Counter-Strike, por exemplo, nat1 conseguiu transformar todo o carinho que sentia pelo jogo em conquistas. Para um jogador profissional é basicamente isso que importa. Entretanto, relembra que acabou vivendo momentos tristes que praticamente todas as mulheres acabam vivendo quando passam a se aventurar em jogos multiplayer.

“Eu amei o jogo e vi que poderia voltar a competir nele. Mas durante esses anos, está bem claro que ele está um passo a frente de muitos outros nesse quesito [toxicidade], realmente. Em todos os jogos existem pessoas tóxicas e é impossível encontrar alguém que não tenha tido pelo menos uma partida desagradável por causa disso. O que você puder fazer para diminuir isso é sempre bem-vindo”.

Ida para a Liquid e temporada quase impecável

É até um exagero tentar tirar a perfeição da temporada da Team Liquid em duas competições onde o quinteto não conseguiu terminar no lugar mais alto do pódio. Dos 11 torneios que disputou neste ano, conseguiu ficar na primeira posição em nove deles. Já como Cavalaria, colocou a organização no mapa mundial do cenário competitivo de VALORANT.

O gabarito não veio apenas em função da atuação do time na Gamers Club Elite Cup e, mais recentemente, no VCT Game Changer Championship. Nestas duas competições a equipe não ficou com a primeira posição geral, mas chegou a sentir o gostinho de quase ir até a final do primeiro torneio mundial de VALORANT voltado exclusivamente para o cenário feminino.

Muitas conquistas, entretanto, acabam não sendo o suficiente para marcar as vezes em que o elenco ficou no quase. Consciente de toda a dificuldade dos dois, nat1 não deixa de lamentar as eliminações, mas destaca que isso foi algo importante para que o quinteto pudesse se sentir mais forte para o que vinha pela frente.

“A gente sabia que esses dois campeonatos citados seriam os mais complicados para nós. Queríamos muito ter ido mais adiante no elite cup e aquela derrota ficou bem marcada para nós, mas também foi uma barreira importante que precisávamos passar para seguir o resto do ano como um time mais forte. O que faltou foram coisas de fora do jogo, a sinergia e ser e jogar mais como um time em alguns momentos. Em jogos difíceis como os do mundial, são esses pequenos detalhes que te fazem perder rounds”.

Dayane Cruz/Riot Games

Ao contrário do que muitos podem pensar, no entanto, não existe uma fórmula pronta daquilo que fez com que a Team Liquid varresse o cenário competitivo. Para nat1, eram cinco jogadoras com uma capacidade competitiva incrível que passaram por diversas situações adversas, mas que não desistirem em nenhuma delas. No fim, evolução pessoal e coletiva para todas as meninas do elenco.

“Eram cinco jogadoras muito talentosas e dedicadas e que não desistiram quando apareceram os primeiros problemas. Nós todas evoluímos muito como jogadoras e amadurecemos como pessoas nesse tempo e isso foi crucial para nos reinventarmos e continuarmos no topo durante esse tempo todo”.

Ano brilhante e conquistas pessoais

Geralmente, quando uma equipe específica sobra durante praticamente todo o ano, é inevitável que peças desse elenco não tenham sido importantes em momentos específicos. No caso de nat1, a jogadora brilhou no servidor em diversas situações diferentes. Para as adversárias, a lição de respeitar a atleta da Team Liquid no momento em que ela portava KAY/O, Killjoy ou Chamber.

Entre os principais feitos da temporada está o posto de Most Valuable Player (MVP) dado pela VALORANT Zone durante o Protocolo Evolução 2. Entretanto, também conseguiu se destacar em outras competições. Por isso, foi apontada como EVP do Protocolo Evolução 3 e Protocolo Evolução 4. Isso tudo vindo junto com números de fazer inveja em qualquer atleta profissional.

Arte/VALORANT Zone

Em 2022, nat1 conseguiu terminar a temporada com um ACS de 230.8. Entretanto, se mostrou extremamente importante para o time com números que comprovam isso. No decorrer deste ano, garantiu um KD de 1.08, mostrando ser letal no servidor e importante durante as rodadas. Além disso, garantiu um ADR de 148 e um KAST de 72%.

Nat1 encerra a temporada competitiva de 2022 com a sensação de dever cumprido. A jogadora entrou para a história do cenário feminino de VALORANT e parece ter consciência disso. Graças a ela, e a todo o elenco da Team Liquid, o mundo sabe da força feminina brasileira.

“Fico muito feliz de ter feito parte dessa campanha tão vitoriosa. Entreguei tudo que podia esse ano e colher os frutos disso é muito recompensador. Ter jogado um mundial da maneira como foi só me deu mais vontade de voltar pra lá e poder fazer algumas coisas diferentes. Todo mundo viu que o cenário brasileiro é muito forte e no próximo ano tende a melhorar ainda mais. Por isso, temos que ter em mente que precisamos vir ainda mais forte em 2023 pra poder estar lá no mundial”, disse.

Afundada em concentração de fazer a Team Liquid se tornar vitoriosa, nat1 disse que não consegue se dar conta em como se tornou uma inspiração para outras jogadores de VALORANT. Questionada pelo VALORANT Zone, a atleta respondeu que já ouviu isso algumas vezes e fica grava por ser importante na vida de outras pessoas, mas é algo que a rotina do dia a dia faça passar sem perceber.

“Já falaram isso pra mim algumas vezes e sempre é muito satisfatório saber que tenho um impacto positivo na vida das pessoas. Às vezes a gente está tão preso naquela rotina de treinar que acaba não tendo muita noção dessas coisas, mas é muito legal saber que nosso trabalho vai muito além de jogar também”, afirmou nat1.

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