Na mitologia grega, Palas Atena, conhecida apenas como Atena, é a representação da deusa da sabedoria, estratégia em batalha e da habilidade. Não poderia ser coincidência que Antônia “antG” Garcia tivesse na Vivo Keyd Athenas a primeira experiência em um cenário profissional que a levou para o Olimpo das jogadoras que se destacaram no cenário competitivo de VALORANT.
Assim como nas crenças de Atena, antG conseguiu ver os reflexos de muito esforço e dedicação que fizeram a jovem jogadora de 19 anos sair da Bagé, cidade com pouco mais de 120 mil habitantes no Rio Grande do Sul, para a 10ª colocação na lista do VALORANT Zone das melhores jogadoras do cenário competitivo desta temporada. Hoje na mira da Gamelanders Purple, a atleta que se se lançou pela DreamTeam colheu frutos de um ambiente familiar caloroso.
GAMER DESDE O INÍCIO
O esporte eletrônico é testemunha de diversos jogadores e jogadoras que tiveram nos pais a primeira barreira a ser superada para conseguir iniciar a trajetória profissional. Privilegiada – neste sentido –, a jogadora revelou que sempre teve acesso aos jogos e tinha no pai como um dos principais parceiros. Justa, assim como a deusa grega, ela faz questão de exaltar todos que fizeram parte desta parte da vida.
“Nunca tive conflito com a minha família. Meu pai, mãe, irmãs e namorado sempre me apoiaram. O único problema era a parte financeira. Era um computador muito caro que eu tinha que ter, a cidade que a gente morava era pequena, no interior. A internet era muito ruim. Tinham vários obstáculos materiais impedindo. As pessoas sempre confiaram muito em mim, quem estava ao meu redor. E isso sempre foi muito importante”.
Apesar de ter apenas 19 anos, a paixão e o carinho por jogos para Antônia parece vir desde muito cedo. Entretanto, enquanto muitos jogadores viram em jogos clássicos como Mario e Sonic os grandes responsáveis por fazer com que o laço com os videogames fosse estreitado, a antG disse que sempre consumiu conteúdos que estão próximos ao VALORANT nos dias de hoje.
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“A minha tragetória nos games sempre foi desde pequena. Joguei Point Blank, Half Life, Counter-Strike 1.6 e Counter-Strike: Global Offensive. Sempre com o apoio do meu pai, que sempre jogava comigo. A gente sempre se interessou por esse tipo de jogo”, disse a jogadora ao lembrar do estímulo dado por Alessandro Garcia.
AMOR À PRIMEIRA VISTA PELO COMPETITIVO
A paixão pelos jogos do estilo First Person Shooter, chamado carinhosamente de FPS, não tardou para se transformar em uma vontade gigantesca de competir. Mesmo tendo em 2021 o primeiro ano no cenário competitivo em qualquer modalidade, antG fez o suficiente para já aparecer entre as melhores do Brasil no jogo da Riot Games.
De acordo com Antônia, antes de começar com o VALORANT – jogo no qual a jogadora olhou de cara feio no início – ela já estava ligada em 220v em tudo que envolvia esporte eletrônico. Modalidades mais próximas do FPS da Riot Games, Counter-Strike: Global Offensive e Rainbow Six Siege eram os queridinhos para que ela tivesse tido a vontade de se tornar profissional. Isso tudo, claro, somado à paixão pela competição.
“Eu nunca disputei em outra modalidade, mas sempre assisti muito e acompanhei muito o cenário de Counter-Strike: Global Offensive e Rainbow Six. Sempre fui muito fã de todo mundo que hoje está junto comigo no VALORANT. Eu acho que me interessei pelo competitivo pelo simples fato de que eu amo isso. Eu amo competir, me dedicar, ver o resultado. O apoio de todas as pessoas ao meu redor me incentivou para entrar no cenário”.
Como supracitado por este que vos escreve, Antônia não se atraiu de primeira pelo VALORANT. De acordo com ela mesma, houve um período em que esteve com um “pé atrás”. Na época, jogava Counter-Strike de maneira casual, mas viu, assim como tantos outros jogadores, a chance de começar algo novo e investir na própria carreira, fazendo com que o interesse pelo título aumentasse cada vez mais.
O apoio dos pais fez com que ela pudesse se dedicar em um período quase que integral com o jogo, mesmo dividindo com o período em que prestava vestibular. Uma nova trajetória, entretanto, não é fácil de ser trilhada, a menos que um cenário totalmente novo apareça e atraia uma comunidade que começara a descobrir, junta, sobre tudo que envolveria o VALORANT.
“Foi algo que me viciou. Eu sempre tive essa vontade de competir, mas o cenário de Counter-Strike sempre foi muito difícil. O VALORANT abriu portas para quem não tinha oportunidades, e foi isso que fomentou a fazer eu querer jogar competitivamente. As oportunidades que o jogo estava dando para outras pessoas… Todo mundo se juntou em uma comunidade nova, e essa união foi muito importante”.
APENAS SER MULHER SE TORNA UMA BARREIRA
Em um país onde 76% das mulheres já sofreram violência e assédio no trabalho, ser mulher em um esporte eletrônico é o suficiente para provocar a ira de ignorantes primitivos. Entretanto, se dedicar ao competitivo e fazer disso uma forma de viver coloca não só antG como todas as outras mulheres do cenário profissional e casual de VALORANT na mira de comentários e atitudes maldosas.
Consciente disso tudo e com mais lugar de fala que este que escreve este artigo, antG fala sobre a importância da criação de um cenário feminino no VALORANT. Apesar de todas as críticas no League of Legends, a Riot Games recebeu diversos elogios por parte da comunidade ao dar uma atenção mais do que especial para este tema ao lançar o FPS.
“Ser mulher em jogos sempre foi muito complicado. Ainda tem muito preconceito com o cenário feminino, e eu acho que a existência deste cenário é algo muito importante. A luta que todo mundo teve para chegar até aqui… A gente ter conquistado um cenário só para a gente mostra o quão forte a gente é e o quão longe a gente pode chegar”, disse a jogadora, que revela ter superado as próprias expectativas.
Como se estar entre as dez melhores jogadoras do ano não desse o sentimento de vitória o suficiente para Antônia, ela também esteve presente entre as indicadas para o Premio eSports Brasil na categoria Atleta Revelação. Para ela, ter esta categoria apenas para mulheres é algo de extrema importância, principalmente porque isto mostra que elas podem ir ainda mais longe – se não forem podadas por uma cultura machista.
“Estamos conquistando muita coisa. Esse tipo de categoria só para mulheres é muito importante. É a primeira de muitas coisas que vamos mostrar nos jogos. Eu acho que a gente tem muito para mostrar e eu fico muito feliz com isso. A Riot ajuda a gente no que pode, nosso cenário está se unindo. Ter muita mulher junta mostra a nossa força. No começo sempre é difícil. Eu tento sempre ignorar tudo isso e usar como combustível para seguir em frente”.
ANO INTENSO E OLHO EM 2022
Vinte e sete de dezembro. Enquanto muitos aproveitam para relaxar o término de mais um ano e relaxar depois de um 2021 onde as coisas começaram a voltar aos eixos em decorrência da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), antG já olha para frente e faz um balanço de tudo que passou no decorrer desta temporada competitiva no VALORANT.
Apesar de ter conquistado o torneio que fez justamente com que ela passasse a defender a Vivo Keyd Athenas, Antônia mostra toda a sabedoria de uma das principais deusas da mitologia grega para saber da importância deste ano. Se considerando “inexperiente”, ela reconhece tudo que a organização proporcionou para a carreira dela, mesmo que não tivesse conquistado nenhum triunfo em um ano tomado por Gamelanders Purple e B4 Angels.
A segunda posição no Valorão Cup e na terceira classificatória do Protocolo Evolução fez com que a Vivo Keyd Athenas ficasse no quase em diversas oportunidades. Ainda assim, a jogadora se provou mais do que competente com qualquer agente – mesmo tendo Raze, Skye e Jett como grandes favoritas.
“O nosso ano foi muito intenso. Eu era muito nova no começo do ano, e inexperiente na parte do competitivo. A Vivo Keyd nos proporcionou uma experiência maravilhosa. A gente teve a oportunidade de crescer e ter acesso a computadores e bootcamp. No começo, eu tinha medo de não conseguir me adaptar. Está virando o ano e todo mundo sai do time com experiência, com coisas aprendidas”, disse a jogadora.
Com boas participações em competições como a GIRLGAMER Challenge Latin America, SBT All Stars, 2ª etapa da Copa Rakin 2021 e Girl Power 3, Antônia se mostra ainda mais otimista em relação ao próximo ano. Na expectativa por torneios presenciais, ela não precisa de anos de experiência competitiva para saber o que significa um torneio mundial de VALORANT apenas para mulheres.
“Eu acho que agora, mais para frente em 2022 com os presenciais e com o mundial de VALORANT feminino, tem muita coisa pela frente. Tem muito para o que a gente se esforçar e batalhar. Vai ser mais uma luta coletiva com todo mundo se apoiando para poder representar o Brasil e todas as mulheres. Eu espero que esteja lá e que seja alguém para representar todas as mulheres no FPS”, disse ansiosa com a possibilidade de disputar um mundial.
Enquanto muitos acreditam que a pressão é algo que pode atrapalhar o desempenho, a jovem jogadora revela que está preparada para tudo que está por vir. Confiante e segura dos objetivos que quer atingir, ela diz ter feito uma promessa para ela mesma para que se esforce ainda mais na próxima temporada competitiva.
“Espero que eu e meu time sempre obtenhamos sucesso e consigamos atingir tudo aquilo que queremos, todas as metas. Eu prometo para mim mesma que vou me esforçar para isso. Estou com muitos planos na cabeça, estou com a confiança para chegar a amassar. Espero que a gente surpreenda muita gente e até a mim mesma. Espero que eu passe por obstáculos que nem eu saiba que consigo passar”.
Campeonato | Colocação |
Girl Power #3 | 3º Lugar |
2º Etapa – Copa Rakin 2021 | 4º Lugar |
Protocolo Evolução #4 | 3º/4º Lugar |
Protocolo Evolução #3 | 2º Lugar |
SBT All Stars | 3º/4º Lugar |
Protocolo Evolução #1 | 3º/4º Lugar |
Valorão Summer Cup | 2º Lugar |
GIRLGAMER Challenge | 3º Lugar |
Protocolo Gêneses #4 | 3º/4º Lugar |
Protocolo Gêneses #2 | 3º/4º Lugar |
Protocolo Gêneses #1 | 3º/4º Lugar |
A 10ª MELHOR NO BRASIL EM NÚMEROS
Ao todo, neste ano, foram disputados 22 torneios femininos no Brasil e todos eles contaram com listas de melhores jogadoras by VALORANT Zone. antG apareceu em sete delas, somando 87,5 VZone Points. A competição mais próxima em que ficou de ser eleita MVP foi a primeira seletiva do Protocolo Evolução a atleta ficou bem próxima de ser eleita MVP.
antG em 2021
- Vivo Keyd Girls Championship – EVP
- Protocolo Genesis #1 – EVP
- Protocolo Evolução #1 – EVP
- Valorão Summer Cup – EVP
- Protocolo Evolução #3 – EVP
- SBT All Stars – EVP
- Girl Power #3 – EVP
Em números absolutos, antG brilhou durante toda a temporada de 2021. Mesmo sendo a primeira da carreira profissional da jovem jogadora de Bagé, ela conseguiu ser um dos principais nomes da Vivo Keyd Athenas, ignorando as vezes em que o time ficou no quase, mostrando mais mérito do time adversário que demérito dela e das companheiras de time.
Se para muitos jogadores é difícil obter mais de uma morte por rodada em uma única partida, antG conseguiu terminar a temporada inteira com uma média de 1.09 de inimigos abatidos para cada vez que morreu no servidor durante as partidas, de acordo com os dados apresentados pelo thespike.
Como já dito, ela tinha na Raze, Skye e Jett os agentes prediletos para que, como ela mesma disse pudesse “chegar e amassar” as adversárias. Não por menos, terminou a temporada competitiva com um ACS médio de 232,2, um dos mais altos dentre todas as jogadoras que fazem parte da lista do VALORANT Zone.
BOLD PREDICTION E APOSTA EM UM NOME
Da tradução literal, bold prediction significa “previsão ousada”. Este termo é utilizado em pesquisas com jogadores que se destacaram e dão palpites de quem será um dos possíveis nomes que tem de tudo para aparecer entre gigantes em breve.
Coincidência ou não, o nome citado por antG foi o de Letícia “Joojina” Paiva. Ex-atleta do Cruzeiro, ela é uma das cotadas para ser contratada pela Gamelanders Purple, junto com a própria Antônia. De acordo com ela, a player que atuou pela Celeste ainda não recebeu as oportunidades que merece, mas acredita que ela tem muito para mostrar para todos no cenário competitivo.
“Eu acho que a jogadora que ainda está aparecendo e vai aparecer muito é a Joojina. Ela não teve muita oportunidade de aparecer, e eu acho que ela tem muito o que mostrar. Ela é muito forte, destaque, e merece muito. Eu sei o quanto ela se dedica. Ela faz muitas coisas e, ao mesmo tempo, se dedica ao VALORANT, o que é algo admirável porque conciliar isso tudo é muito difícil”.